Modulações do Discurso, Interpretações e Memórias sobre a Geada Negra de 1975 e a Cafeicultura Paranaense

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DOI:

https://doi.org/10.32991/2237-2717.2021v11i3.p288-317

Palabras clave:

Geada Negra, Norte do Paraná, Cafeicultura

Resumen

No inverno de 1975, uma geada foi responsável pela desidratação e a consequente queima de cafezais na região norte do Paraná, alterando de modo significativo sua paisagem agrícola e economia. Após sofrerem os efeitos de uma geada de vento, as plantas exalam odor de queimado e ganham um aspecto escurecido, o que influenciou sua denominação de geada negra. Sua incidência foi noticiada nos jornais locais, tais como os londrinenses Panorama e Folha de Londrina, como causa do “fim da cafeicultura” desenvolvida no estado e de problemas sociais relacionados ao campo. Ao contrastarmos os discursos produzidos nesses periódicos no momento logo após a ocorrência da intempérie com aqueles reiterados na Folha de Londrina na década seguinte, e o exposto na Gazeta do Povo, 40 anos depois, assim como os relatos presentes no documentário Geada Negra: a História do Paraná, da economia cafeeira ao êxodo rural, de Adriano Justino (2008), podemos perceber permanências e mudanças sobre a interpretação da causalidade única, ou seja, da geada como tendo sido determinante para a retração da cafeicultura. Neste artigo, argumentamos que a recorrência a essa explicação se relaciona com os sentidos narrados por aqueles que a vivenciaram, pois a sensação do frio e o desespero da visão dos cafeeiros queimados influenciam a memória que se tem sobre evento.

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Publicado

2021-12-14

Cómo citar

Moreira, J. R. S., & Carvalho, A. I. de. (2021). Modulações do Discurso, Interpretações e Memórias sobre a Geada Negra de 1975 e a Cafeicultura Paranaense. Historia Ambiental Latinoamericana Y Caribeña (HALAC) Revista De La Solcha, 11(3), 288–317. https://doi.org/10.32991/2237-2717.2021v11i3.p288-317

Número

Sección

Artículos